
São Paulo, crônica de uma tragédia anunciada
Em 2003 essa matéria da Folha (jornal paulista, extremamente condescendente com as gestões tucanas) já alertava a população: sem novos investimentos, a estrutura hídrica existente para abastecimento da grande São Paulo entraria em colapso em 2010.
Desculpe a repetição, mas gosto de reforçar esses aspectos: há mais de 10 anos o governo de São Paulo foi avisado de que a estrutura existente não seria capaz de atender a população. Captou?
10 anos é muito tempo! E vale dizer que a estrutura atual é a mesma de 30 anos atrás, e de lá para cá a população da região metropolitana saltou de 10 para 22 milhões de habitantes. Nos mais de 20 anos de gestão tucana, o governo precisaria proteger as matas ciliares, reduzir o desperdício de água, construir novas represas e interligar os sistemas, enfim, o básico, “café pequeno” para o estado mais rico desse país.
E o que fez o PSDB? rigorosamente nada: depois de privatizar a Sabesp – companhia de águas paulista – se limitou a distribuir lucros para os acionistas, em média R$ 500 milhões/ano. Festa para alguns, a Sabesp foi até premiada nos Estados Unidos como a empresa que mais se valorizou na Bolsa de Ações de Nova York. Tragédia para outros, vejamos..
Para piorar, o eleitor paulista tem se notabilizado por enviar ruralistas para Brasília (deputados e senadores), que – entre outras coisas – simplesmente detonaram o meio ambiente no estado. Em nome do agronegócio – principalmente – 70% da vegetação que protegia os mananciais foi destruída. Para se ter ideia de como os psicopatas estão ganhando esse jogo, em meio a essa tragédia hídrica em SP, em Dezembro/2014 a assembléia paulista aprovou um projeto de lei (PL 219/2014) que diminui a mata ciliar (só podem estar de brincadeira, não?).
O resultado dessa sandice não poderia ser outro. Há mais de um ano falta água em SP, apesar da mídia condescendente não divulgar isso. Você talvez não saiba porque – é claro – eles começam a cortar a água nas regiões mais pobres, periféricas, mas chegará até você, aguarde.
Porém, o dado mais assustador, que também está sendo sonegado pela mídia, é que essa crise não tem volta. Existe uma dúvida sobre quando será o colapso total. Uns apostam em Março/2015, outros arriscam em Julho e alguns mais otimistas acreditam que a coisa vai estourar mesmo lá prá Setembro/Outubro.
Por colapso total, entenda nenhuma água. Zero. O que você acha que vai acontecer? Oded Grajew, entre vários outros, acredita em uma “Catástrofe social, econômica e ambiental“.
De uma maneira geral, esse assunto interessa a todo mundo, certamente a todos os paulistas, mas nosso foco não é o “geral”, é o mercado imobiliário. O que você acha que vai acontecer com esse mercado hiper-inflacionado, que vem se equilibrando na corda bamba a pelo menos 5 anos (há controvérsias, pessoalmente eu acho que o mercado imobiliário fora do MCMV está travado desde 2010)?
Para o mercado imobiliário, qual o potencial destrutivo de um panorama de caos social? Empresas já estão caindo fora de SP, o que vai gerar uma onda de desemprego. Qual o impacto disso em um mercado de imóveis com preços artificiais alavancado por bancos através de financiamentos? Precisa ser gênio para responder essa pergunta?
São Paulo é a locomotiva do Brasil, é o estado mais rico, está na vanguarda de todos os mercados realmente importantes para o país (como é o caso do imobiliário). Uma quebra no PIB paulista certamente vai afetar o resultado nacional.
O que acontecerá com o público do MCMV em SP que será o primeiro afetado por essa tragédia anunciada? Até que ponto o estouro da bolha imobiliária em SP (inquestionável, e no curto prazo) consegue afetar outros mercados, como Rio, Minas Gerais, Brasília, etc? O Brasil consegue manter seu ritmo independente do que acontece em sua maior cidade?
Será que até Julho/Agosto parte dos paulistanos ainda vai continuar chamando nordestinos de burros?
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