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Soteropolitanos e amantes da Bahia! 🎭 O Pelourinho, coração histórico de Salvador e Patrimônio da Humanidade, pulsa como ícone máximo da cultura baiana. Contudo, seu celebrado “renascimento” nas décadas de 80 e 90 esconde uma ferida profunda e um dilema ético ainda não resolvido: até que ponto a revitalização cultural e turística justificou a expulsão violenta de milhares de soteropolitanos tradicionais?
- O Êxodo Silenciado: Os dados são contundentes e polêmicos. Entre 1980 e 2000, o bairro perdeu aproximadamente 67% de sua população residente. Esse esvaziamento não foi natural. Sob o discurso de “sanear” e “requalificar” o centro histórico para o turismo, milhares de famílias, muitas delas de baixa renda, idosos com raízes profundas no local e comunidades negras tradicionais, foram compulsoriamente removidas. A relocação forçada, frequentemente para conjuntos habitacionais distantes nas periferias da cidade, desarticulou redes sociais e culturais seculares. Onde antes havia casas e vielas cheias de vida, instalaram-se lojas de souvenirs, restaurantes para turistas e instituições culturais, transformando a moradia em mercadoria turística.
- Resistência Cultural na Corda Bamba: Apesar do choque, a alma popular resiste, teimosamente encarnada por figuras icônicas. Artistas como o pintor Bida, cujas obras capturam o espírito do lugar, e vendedores como Milton, famoso pelo seu suco de limão com coco, são guardiões da autenticidade e testemunhas vivas da história recente. Eles mantêm viva uma chama cultural que o turismo de massa não reproduz. Contudo, sua permanência é uma batalha diária contra o custo de vida estratosférico, a pressão imobiliária e a transformação do espaço em um cenário muitas vezes artificial. A pergunta ecoa com urgência: Até quando estes símbolos da cultura soteropolitana conseguirão resistir?
- O Turismo: Fôlego ou Asfixia? Não há dúvida do sucesso turístico: o Pelourinho atrai cerca de 1 milhão de visitantes por ano, injetando recursos na economia local. Porém, este mesmo sucesso gera contradições agudas. Crimes pontuais, muitas vezes amplificados pela mídia, assustam visitantes, criando uma percepção de insegurança. Seria esta insegurança, em parte, um reflexo da falta de integração com as comunidades soteropolitanas originais que foram expulsas? A ausência destes moradores tradicionais, que eram os olhos naturais das ruas e detinham o controle social orgânico, fragilizou o tecido comunitário? O turismo massificado, concentrado em horários e rotas específicas, criou bolhas que ignoram a complexidade do entorno, aprofundando o abismo entre a experiência do visitante e a realidade dos soteropolitanos que ainda lutam por seu espaço.
Convidamos você, soteropolitano ou amante da Bahia, a debater este dilema fundamental:
- Como conciliar preservação histórica e direito à moradia digna? É possível revitalizar um patrimônio sem expulsar sua comunidade fundadora? Quais modelos de gestão participativa e políticas de habitação social no centro histórico podem ser viáveis?
- O Pelourinho de hoje: Autenticidade ou Cenografia? O que resta da autêntica cultura popular soteropolitana no Pelô diante das lojas de cadeias internacionais e restaurantes estandardizados? Ele se tornou um palco para turistas, perdendo sua essência viva e orgânica? Onde reside a verdadeira “alma do lugar”?
Como bem sintetiza a reflexão crítica: “Um patrimônio só vive quando sua comunidade respira nele”. O desafio é garantir que o Pelourinho, símbolo maior de Salvador e da resistência negra brasileira, não se torne um museu ao ar livre ou um produto turístico desenraizado, mas um espaço vivo onde a cultura soteropolitana autêntica possa, de fato, respirar, prosperar e pertencer.
Fontes: UNESCO, IPAC, Estudos sobre Remoções no Centro Histórico de Salvador.
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